Capítulo 1 – Últimas Palavras: Henkel Trammfarr


Henkel olha para trás e sorri: “Dever cumprido”. O braço do escudo pende lado ao seu corpo, inerte. Teria de segurar aquelas abominações apenas com sua lança.

Talvez Shaha conseguisse usar alguma de suas artes curativas a tempo, já que as defesas e fortificações de Lara pareciam não funcionar…

Ele consegue estocar com sucesso o pescoço daquele que cortou-lhe escudo e braço. Sente-se calmo. Quando se sabe que a morte é inevitável, todas as preocupações somem, sem importância.

Vê com desgosto dois dos soldados espetando e cortando os humanos. Ia muito além do necessário para incapacitar ou matar. Era divertimento para aquelas coisas…

Ele se arrepende por não ter conseguido defendê-los. Pelo menos o jovem Lamark saiu vivo daquilo tudo, e ainda por cima conseguiu resgatar um humano. Era pouco, mas não ruim de todo. Qualquer um sair vivo contra aquele exército era um verdadeiro milagre.

Henkel olha ao redor, para saber a situação da batalha. Tork sozinho conseguiu conter três daqueles soldados por tempo suficiente para Lamark fugir… Não tinha se apercebido daqueles ali. “Dívida paga, hein Tork?”

Asgasch e Edra foram ao auxílio de Tork. Não chegaram a tempo de salvá-lo, mas conseguiram derrubar os soldados. Edra tinha um ferimento gravíssimo no ombro. Asgasch sangrava profundamente pela barriga. Era possível ver suas entranhas pelo corte. Precisamos urgentemente de Shaha. Onde pelos Deuses ele está?!

Rith jazia morto no chão. Um soldado morto estava ao seu lado enquanto outro, ainda vivo, o golpeava convulsivamente.

Se aquilo tudo foi feito por apenas dez desses cavaleiros, imagine o que faria um exército inteiro de duzentos desses… monstros!

Finalmente Henkel encontra Shaha. Qualquer esperança que tinha de sobreviver se foi ao vê-lo. Estava de pé, de frente a Lara, protegendo-a de dois soldados. Seu corpo já estava morto, mesmo assim permaneceu de pé. Lara estava ilesa.

Ele percebe que os soldados ainda vivos estavam distraídos demais em sua carnificina para perceber que ainda havia gente viva ali. Com dois golpes certeiros, Henkel corta o pescoço dos dois soldados que estava na carroça. Dois humanos ainda estavam vivos, mas na mesma situação sem salvação dos sáurios.

Asgasch e Edra percebem exatamente o mesmo que Henkel e se dirigem para decapitar os soldados restantes. Primeiro abatem o que estava com o corpo de Rith: um machado bem afiado no pescoço. E ali mesmo cai Asgasch, morto.

Edra segue para socorrer Lara. Distraídas, as aberrações não percebem o machado descer-lhes a garganta.

Todos mortos.

O som de muitos cavalos se faz audível. Aquela pequena vitória tinha gosto amargo e estragado.

Lara sentia-se mal: não conseguiu fazer nada durante toda a luta. Suas defesas foram completamente inúteis contra aqueles monstros: cortavam-nas como faca quente corta manteiga.

Tinha uma coisa que ainda podia fazer, embora significasse a morte de todos ali, inclusive ela mesma. Era proibido, um tabu, mas ela se interessou assim mesmo e aprendeu. Achava que nunca teria de usar aquilo.

Ela murmura baixinho, palavras antigas, de poder. Enquanto isso, o som dos cavalos se aproximava. Em poucos instantes eis que surge o corpo principal do exército. Deviam ser mais de cento e cinquenta.

Henkel e Edra não fazem a menor ideia das intenções de Lara. Erguem suas armas e se preparam para o combate. E para a morte…

Lara espera pelo momento certo: quando o exército estivesse cercando-a, prestes a matá-la.

E assim ela aguarda.

O exército avança como um raio em uma poderosa investida. “Imprudentes. Imprudentes Um só deles seria o suficiente para acabar conosco Mas cada um quer seu pedacinho de carne, hein?”

Quando uma lança está a milímetros do focinho de Lara, ela mesma usa sua faca para cortar a própria barriga.

“O que da terra vem, que a terra retorne”

A lança continua seu trajeto, impassível, estraçalhando a cabeça da sáuria.

E tudo vira pó…

Sáurios, humanos, monstros e montarias.

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